Podia morrer a poesia que haveriam na mesma poemas. Poderia não haver mais poetas, mas os poemas ficariam para sempre, e alguém do nada, ou talvez por uma razão que fosse maior do que tudo o que possas pensar, iria arriscar e transformar um dicionário de palavras numa compilação nova, fresca, de poemas que até podia não ter sentido para quem os lê, mas tinha de certeza para quem os fez, e os dedica com um selo que vem do fundo do coração, talvez a tinta invisível para certos olhares distraídos.
No entanto existem poemas que não são como todos os outros.
Como existe ouro e prata, existem poemas que são banhados em ouro, que são
demasiado valiosos para serem publicados em livros ou em sites como este, pois decerto
nunca o irias ler.
Talvez ontem tenha escrito em poema desses, tenho de rever a
construção frásica, esqueci-me de evitar repetições, tem escrito, sem querer, o
teu nome, em pelo menos 10 vezes, falha minha.
Passei o dia todo a tentar entregar-to, talvez não tenhas
notado, também foi essa a minha preocupação, mas percorri quilómetros, quem
sabe milhares de milhas por este Mundo à tua procura.
Saí de casa, perguntei por ti e ninguém te conhecia, talvez neste
lugar estejam todos a dormir, como podem não conhecer a pessoa mais linda que
podia, quem sabe, um dia, ter passado nesta rua? Fiquei parvo, e ainda estou.
Mas não desisti.
Perguntei ao carteiro se te conhecia, ele disse que já
entregou milhares de cartas, mas nunca viu o teu nome estampado em nenhuma
delas. Quase me zanguei com o carteiro, como ele pôde não ter lido ainda o teu
nome, se o teu nome tem as letras mais perfeitas do alfabeto… Mas aí pensei, mesmo
se ele soubesse não seria boa ideia pedir-lhe para entregar por carta este
poema, sem dúvida entrega-te milhares de declarações de amor que milhares de
rapazes decerto te enviam todos os dias pois és a rapariga mais linda deste Mundo, e
assim não seria surpresa, o ouro convertia-se em prata nessa carta e seria um
poema banal, como todos os outros que provavalmente recebes. Mas o meu amor é tão grande que também de
certeza não caberia naquela carta com o poema que te queria entregar, terei que
arranjar outra forma. Mas não desisti.
Fui a uma loja e perguntei se te viram. Todos disseram quase
em coro que não, decerto foi o carteiro que passou por lá e mandou todos dizer
que não, só pode, hoje não estava nos meus dias, toda a gente que encontrava
parecia não te conhecer, impossível, que azar de vida. Que raiva não saber o
teu número de calçado para te oferecer conjuntamente com este poema os sapatos
mais lindos que encontrei naquela loja, de certeza ficavam-te bem, de certeza davam
mais luz ao teu andar que é especial, apesar de nunca conseguirem dar mais
encanto a alguém que já nasceu uma princesa como nos contos de fadas. No entanto
encontrei na loja outra coisa para te oferecer, diz-se que na simplicidade está
a virtude, talvez tenham razão. Mas não desisti.
Acordei, vi que afinal não passava tudo de um sonho, no
entanto na minha mão esquerda estava um poema escrito com a minha letra, e na
outra, um embrulho, coisa estranha, não sei o que está lá dentro, talvez a
resposta esteja nos sonhos, tenho de me tentar recordar, não deve ser difícil,
sonho todos os dias, a toda a hora, quando penso em ti…
3 JAN, 2017 0
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